domingo, 28 de junho de 2015

A Rascante Percepção da Finitude

Olá, meus caros amigos leitores,

Depois de um longo estágio "in barrica", cá estou eu de volta com um breve texto, que me senti inspirado a escrever tempos atrás, em um momento muito particular. Ao final da leitura, tenho certeza que, entre tantas outras, caberá a pergunta: "E onde entra o vinho nessa história?" O vinho entra como inspiração de vida, de busca por dias melhores, do aprendizado do desapego ao abrirmos aquela garrafa especial para brindarmos um momento único com quem gostamos. Enfim, o vinho entra na vida, e a vida se banha no vinho...


A Morte

Por (não de) Márcio Kill

Não que eu queira assustar os amigos, nem muito menos dar uma alegria aos inimigos, mas ultimamente tenho me sentido particularmente ‘inspirado’ a escrever sobre a morte. Não sobre a ‘transição’ ou ‘passagem’, como vejo o fenômeno natural da interrupção do ciclo da vida orgânica pelo qual todos nós passaremos mais cedo ou mais tarde; o que me aflige é a morte mesmo, enquanto ausência de vida, em vida.
Dias atrás veio à tona a frase de Roberto Bolaños que diz ser preferível ‘morrer a perder a vida’.  Aflige-me perceber o quanto de vida deixo que se perca por entre meus dedos antes de morrer efetivamente. Ainda, para citar outro morto célebre, confesso o quanto me aborrece a percepção de ‘estar sentado, com a boca cheia de dentes, esperando a morte chegar’. E agora, sendo original na expressão de minhas próprias ideias, confesso meu desespero ao sentir que a morte parece já ter chegado e estar simplesmente na fila da esteira, esperando para retirar a bagagem...
Mas então, que bagagem traria a morte que só vem para daqui levar, sem nada aqui deixar? Entristece-me a impressão de que não só pouco terei para levar, como também, e principalmente, menos ainda aqui deixarei quando me for. Uma pena um ciclo encarnatório com tão pouca troca evolutiva. Tão pouco ‘turnover’, como diria meu ‘eu’ calculista.
Só me resta então tentar buscar ‘inspiração’ de vida enquanto estiver neste breve intervalo entre as primeiras inspirações e as últimas expirações de meu corpo físico. Corpo tão frequentemente negligenciado... resta-me preferir acreditar em uma ‘transição’ ao invés de um ‘fim definitivo’; até porque diante da eventual certeza de que o ‘fim seria definitivo mesmo’, de que valeria ‘ficar aqui enrolando’ se não se tem vida em vida mesmo?! Então é isso: enquanto dou voz a essa ‘inspiração’ de traçar umas poucas linhas sobre a morte, vou tentando achar Inspiração para a vida.

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