sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Terroir e seus terrenos

Vocês lembram de alguns filmes dos anos 80? "The Evil Dead"; "A Casa do Espanto"; "O Exorcista"... todos clássicos filmes de 'terroir'! E olha que eu curto bem mais um bom drama ou uma boa comédia! Filme de 'terroir' faz a gente imaginar coisas...

Por Márcio Kill
espiritovinho@gmail.com 

Imagine a cena: sala de reuniões de um projeto do qual eu participava. Durante uma pausa para o pessoal do planejamento (ou seria de tubulações?) atualizar dados em uma planilha, inicio um papo informal com um dos funcionários da empresa cliente e a conversa acaba “fluindo” para o assunto vinho. Falo sobre o ESPírito Vinho e ele me diz que seu sogro é um entusiasta do assunto e me pergunta o que é  “terroir” – termo que já ouvira diversas vezes. Antes que eu pudesse declinar qualquer explicação enochata, como que inspirado pelo “Espírito Vinho”, me vem à boca uma definição curta e grossa: “’terroir’ é toda contribuição que a Mãe Natureza dá para que cada vinho seja único”! Mas será que é só isso mesmo?  
Na definição dada por Anselmo Endlich, diretor executivo de um e-commerce de bebidas, benchmark no setor, “’terroir’ é todo o ecosistema que faz parte da produção do vinho. Tudo que um vinho precisa ter para ser produzido” [i]. Se perguntado a esse respeito, um paranaense  amigo meu responderia sem pestanejar: “’Terroir’ é tereno, daí!” Já Maya, personagem do filme “Sideways”, um clássico entre os filmes que falam de vinhos, de forma mais poética e implícita, tem uma abordagem holística do conceito expandindo-o para incidência de sol e chuva na época da colheita das uvas e até a uma lembrança carinhosa das pessoas que cuidaram das vinhas.

A inclusão ou não do fator humano na definição de terroir ainda é polêmica. O que já é ponto pacífico entre enófilos, enólogos e outras criaturas de Baco é que simplesmente “terreno” não é suficiente para explicar “terroir”.
Vamos tomar o “caminho da roça” e tentar entender melhor esse termo de origem francesa. De modo geral, a uva precisa de uma afinada mistura de sol e frio para formar os açúcares que serão convertidos em álcool na fermentação. Apesar de tratada como um tesouro, (pelo menos deveria ser), a videira, mãe de bons vinhos, tem que trabalhar duro para conseguir água e dividi-la sabiamente entre seus cachos. Imagine, então, um terreno (vinhedo) com uma boa insolação e um “morrinho aqui, outro alí” que permitam que as videiras de um dos lados recebam ainda mais luz e calor e que a água tenha boa drenagem. Imagine que essa plantação esteja em uma área de relativa altitude, com tendência a clima mais ameno, principalmente à noite. Considere ainda que todo este cenário receba a influência de determinados ventos; ou que talvez esteja protegido deles. Poderíamos incluir também as particularidades e objetivos do enólogo, as influências de um “flying winemaker”[ii] além de incontáveis outros fatores. Continuaríamos por páginas e páginas com o exercício de imaginação e cada fator visualizado resultaria em alguma diferença no produto final: o vinho em nossas taças. Isso é "terroir"! Mas será que é só isso mesmo?


[i] Fonte: Fórum E commerce 2011 - Case Wine.com.br.
[ii] Enólogos contratados como consultores por diversas vinícolas para o desenvolvimento de vinhos especiais. Como acabam tendo que “correr o mundo” para atender clientes de todos os continentes, ganham o apelido de “voadores”. Um dos mais conhecidos é o Francês Michel Rolland.

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