Por Márcio Kill
Cansado, depois de horas de trabalho
e concentração, resolvi sair para dar uma caminhada no começo da tarde. Ao
passar em frente a uma tradicional loja de vinhos na Praia da Costa, Vila
Velha, resolvi entrar.
Fui recebido por um sorriso ‘default’ por parte de um funcionário
(suponho) e uma rápida troca de “boa tarde”. Notei a presença de um
entusiasmado cliente falando ao celular; um senhor, - não sei se ‘staff’ ou cliente -; além de mais alguém
ao fundo da loja. Andei, examinei alguns rótulos, troquei olhares com os
presentes e... nada! Eu estava invisível! Imaginei ter passado ao outro plano
da existência. Uma série de comparações me vieram à mente naquele instante:
imaginei-me como Patrick Swayze, em ‘Ghost’,
algum ator desfocado vestido de branco em alguma novela Global, alguma
personagem da Zibia Gasparetto... que alívio quando percebi que podia tocar a
maçaneta e alcançar a saída de volta ao mundo dos vivos.
Escolhi o termo ‘default’, acima, para descrever a
recepção (ou seria decepção) que tive na loja em função do seu duplo sentido: o
já “abrasileirado” ‘default’ (por
padrão, como de costume) também é usado em inglês para definir a falta de um
pagamento. Apesar de eu não ter ido até aquela loja cobrar nada, saí com a
sensação de que ficaram me devendo algo...
Mas que algo? Eu fui mal
atendido? Não! Eu simplesmente não cheguei a ser atendido! O que se busca,
então, em uma loja chic de vinhos? Será que em plena tarde de terça-feira eu
compraria uma ou mais garrafas? Um “Don Peor”, ou talvez um “Almapenada”?
Provavelmente, não! Será que eu me interessaria por alguma novidade,
mencionaria o espiritovinho.blogspot, conversaria um pouco, aprenderia alguma
coisa, e sairia de lá com a vontade de voltar, comprar e indicar para os amigos
e leitores? Certamente que sim! O fato é que a gente sai de situações como essa
cheio de “serás”.
Será que o tratamento seria outro
se estivesse em um Armani ou pelo menos vestindo uma daquelas camisas com aquele
“naipe de espadas”, uma lagartixa verde ou outra marca qualquer, ao invés de
camiseta, bermuda e tênis? Poxa, eu tinha acabado de iniciar meu passeio,
estava tão limpinho... Será que as leis de mercado mudaram e agora é o cliente
que tem que por terno e executar algum protocolo especial para ser bem recebido ao olhar os
produtos de um comércio? Será que não é por essas e outras que o vinho carrega
a – injusta – pecha de “produto só para elites”? Será, será, será... quizás, quizás, quizás...
Olá, Márcio!!!
ResponderExcluirMuito bom o seu texto!!!
Você conseguiu passar com precisão o sentimento que invade a qualquer pessoa que deseje ser bem atendida, independente do produto oferecido e independente da "classe social" do comprador.
Precisamos nos encontrar para uma nova degustação.
Forte abraço.
Luiz Arthur
Lamentavelmente, por mais que as organizações paguem treinamentos para as suas equipes (e eu sou testemunha que pagam...), os profissionais ainda se comportam de forma desmotivada, negligente e/ou incompetente.
ResponderExcluirTalvez a estratégia de remuneração desta loja seja fixa, completamente desvinculada do volume de negócios praticado - o que é um erro crasso de gestão.
Mona Liza