terça-feira, 15 de outubro de 2013

A inefável experiência da invisibilidade

Por Márcio Kill

Cansado, depois de horas de trabalho e concentração, resolvi sair para dar uma caminhada no começo da tarde. Ao passar em frente a uma tradicional loja de vinhos na Praia da Costa, Vila Velha, resolvi entrar.

Fui recebido por um sorriso ‘default’ por parte de um funcionário (suponho) e uma rápida troca de “boa tarde”. Notei a presença de um entusiasmado cliente falando ao celular; um senhor, - não sei se ‘staff’ ou cliente -; além de mais alguém ao fundo da loja. Andei, examinei alguns rótulos, troquei olhares com os presentes e... nada! Eu estava invisível! Imaginei ter passado ao outro plano da existência. Uma série de comparações me vieram à mente naquele instante: imaginei-me como Patrick Swayze, em ‘Ghost’, algum ator desfocado vestido de branco em alguma novela Global, alguma personagem da Zibia Gasparetto... que alívio quando percebi que podia tocar a maçaneta e alcançar a saída de volta ao mundo dos vivos.
Escolhi o termo ‘default’, acima, para descrever a recepção (ou seria decepção) que tive na loja em função do seu duplo sentido: o já “abrasileirado” ‘default’ (por padrão, como de costume) também é usado em inglês para definir a falta de um pagamento. Apesar de eu não ter ido até aquela loja cobrar nada, saí com a sensação de que ficaram me devendo algo...

Mas que algo? Eu fui mal atendido? Não! Eu simplesmente não cheguei a ser atendido! O que se busca, então, em uma loja chic de vinhos? Será que em plena tarde de terça-feira eu compraria uma ou mais garrafas? Um “Don Peor”, ou talvez um “Almapenada”? Provavelmente, não! Será que eu me interessaria por alguma novidade, mencionaria o espiritovinho.blogspot, conversaria um pouco, aprenderia alguma coisa, e sairia de lá com a vontade de voltar, comprar e indicar para os amigos e leitores? Certamente que sim! O fato é que a gente sai de situações como essa cheio de “serás”.

Será que o tratamento seria outro se estivesse em um Armani ou pelo menos vestindo uma daquelas camisas com aquele “naipe de espadas”, uma lagartixa verde ou outra marca qualquer, ao invés de camiseta, bermuda e tênis? Poxa, eu tinha acabado de iniciar meu passeio, estava tão limpinho... Será que as leis de mercado mudaram e agora é o cliente que tem que por terno e executar algum protocolo especial para ser bem recebido ao olhar os produtos de um comércio? Será que não é por essas e outras que o vinho carrega a – injusta – pecha de “produto só para elites”? Será, será, será... quizás, quizás, quizás...

 

 

 

 

2 comentários:

  1. Olá, Márcio!!!

    Muito bom o seu texto!!!
    Você conseguiu passar com precisão o sentimento que invade a qualquer pessoa que deseje ser bem atendida, independente do produto oferecido e independente da "classe social" do comprador.
    Precisamos nos encontrar para uma nova degustação.
    Forte abraço.
    Luiz Arthur

    ResponderExcluir
  2. Lamentavelmente, por mais que as organizações paguem treinamentos para as suas equipes (e eu sou testemunha que pagam...), os profissionais ainda se comportam de forma desmotivada, negligente e/ou incompetente.
    Talvez a estratégia de remuneração desta loja seja fixa, completamente desvinculada do volume de negócios praticado - o que é um erro crasso de gestão.
    Mona Liza

    ResponderExcluir